Em seu texto
Dosse aborda de forma oportuna e desmistificadora sobre um importante
“movimento”, iniciado em janeiro 1929 por Bloch e Febvre com o lançamento de
uma revista. A partir da existência desta revista e das revoluções que o
período pós-guerra gera, novas e importantes contribuições surgem para a
historiografia naquela atualidade passando a construir o que posteriormente
passa a ser chamada de “história nova”. Segundo o autor este “movimento” não só
foi importante só para os estudos históricos, mais também, para a formação
profissional dos historiadores, visto que a filosofia deste “movimento” baseava-se
em uma historiografia com novas abordagens metodológicas. Segundo ele ”... passamos
insensivelmente da biografia dos grandes heróis da história ... para as
biografias dos heróis obscuros do cotidiano” (Dosse,
p. 15).
Segundo Dosse,
as quebras dramáticas da economia capitalista, a qual se encontrava mergulhadas
na deflação, na recessão e no desemprego, que atingia em escala mundial, colocam
a ideia de progresso relacionada ao acúmulo de bens matérias em
questionamentos. É neste cenário que a revista desloca seu olhar dos aspectos
políticos para os aspectos econômicos e ganhando assim crescimento evolutivo
como em suas palavras cita “a economia torna-se o aspecto pelo qual a sociedade
dos anos 20 e 30 se pensa, e é nesse ambiente que a revista de história
econômica e social de Marc Bloch e
Lucien Febvre vai evoluir como peixe dentro d`água”
(Dosse, p. 22).
Ainda neste
começo de século um outro pólo impulsionador com vitalidade particular surge na
França; uma disciplina tradicionalmente próxima dos historiadores – a geografia
vidaliana de Pierre Vidal de La
Blache que também se consagra na reação contra o positivismo
da escola historiográfica tradicional pretendendo eliminar em sua literatura a
ênfase ao mero acontecimento, ao fato político. Esta nova visão geográfica
vidaliana busca fixar-se no tempo atual e interessa-se por tudo que se mantém
no presente, pelas permanecias de tudo que formam nossas paisagens valorizando
o “meio”, o “modo de vida”, “o quotidiano”. Tendo o homem como seu objeto
principal a geografia vidaliana retratada de forma descritiva, caracterizar-se
como a ciência dos lugares, das paisagens, dos efeitos visíveis sobre a
superfície terrestre, dos diversos fenômenos naturais e humanos. Para ela o
homem humaniza a natureza ao mesmo tempo em que se dá à naturalização. A
geografia neste período ganha terreno por participar de numerosos comitês de
projetos de investimentos estatais. Esse elo entre eruditos e o poder gera
trabalho de campo e beneficia uma geografia que responde à demanda social, enquanto
que a história nesses anos encontra-se totalmente desvinculada do presente. Com
a criação em 1941 do concurso de ingresso à carreira universitária de geografia
a progressão dos geógrafos é consagrada. Em 1914 calculava-se que havia 01
professor de geografia para 05 de história. Em 1938 essa proporção passa para
01 para 03. Percebe-se neste período uma forte crise no ofício de historiador
que só consegue ganhar novas perspectivas a partir da observação da própria
revolução do espírito científico a partir do surgimento das novas teorias que
surgem no meio cientifico como: a cinética dos gases, a mecânica einsteiniana e
a teoria dos quanta que alteram profundamente as ideias cientificas. Neste
cenário a pesquisa histórica tem como base a teoria das probabilidades. Lucien
Febvre e Marc Bloch tentam substituir a história geral tradicional por uma
história experimental onde o conhecimento é mediado por estudos de caso.
Segundo o
autor a Escola metódica defina seus métodos redigidos por Charles Langlois e
Charles Seignobos em 1898. Segundo o guia destes estudantes a história
apresenta-se como instrução cívica. Unidos nesta ação estes dois historiadores
definem quatro etapas da pesquisa histórica. Em primeiro lugar o historiador
deve reunir os documentos e classifica-los. Em seguida deve-se proceder a
crítica interna dos mesmos e depois por dedução ou analogia esforçar-se para
encadear os fatos preenchendo as suas lacunas organizando-os em uma sequência
lógica.
Na escola
historicizante um, autor de grande destaque é Ernest Lavisse que tem por
objetivo unir a comunidade nacional contra a população alemã. Segundo ele a
história é um apelo, um antegozo da mobilização geral. Ela deve fortificar um
estado de espírito guerreiro, resgatar os traços construtivos do superego
nacional. “Se os alunos não carregarem com sigo a lembrança viva de nossas glórias
nacionais, se não souber que seus ancestrais combateram em mil campos de
batalha por causa dos nobres, se não souber que custou sangue e esforços fazer
a unidade de nossa pátria e em seguida resgatar do caos de nossas instituições
envelhecidas, as leis que nos fizeram livres; se não se tornar cidadão
compenetrado de seus deveres e o soldado que ama seu fuzil, o professor
primário terá perdido seu tempo”.
Segundo os
geógrafos a empresa de Febvre ameaçava os rumos da geografia, no entanto,
segundo o autor, esta “partida já estava ganha antes de começar, pois a escola
geográfica já se encontrava em declínio”. Neste acirramento competitivo os
Annales foram bem-sucedidos, pois buscaram para defesa de sua bandeira um
agrupamento entre as diversas ciências humanas existentes. É a partir destes
Acirramentos que ela se define como escola.
Em suma este
movimento dividiu-se em três fases distintas: sendo a primeira, iniciada em
1920 e liderada por Lucien Febvre e Marc Bloch. Esta se estendeu até o ano de
1945, sendo caracterizada pelos embates
contra a História tradicional, a história política e a história dos eventos
de 1946 indo até o ano 1968. Na segunda, os embates questionam seus conceitos de estrutura e conjuntura e
acabam por aproximar-se muito, segundo Burke, de uma escola, com novos métodos
e propostas para a constituição de uma História serial e de longa duração. A
terceira que se iniciaria por volta do ano 1968, não sendo precisamente
considerada a última, liderada por Jacques Le Goff e Georges Duby, é marcada
pela fragmentação onde alguns de seus membros
transferiram-se da história socioeconômica para a sociocultural, enquanto
outros estão redescobrindo a história política.
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