terça-feira, 29 de janeiro de 2013

SINTESE DO TEXTO HISTORIA EM MIGALHAS – François Dosse



Em seu texto Dosse aborda de forma oportuna e desmistificadora sobre um importante “movimento”, iniciado em janeiro 1929 por Bloch e Febvre com o lançamento de uma revista. A partir da existência desta revista e das revoluções que o período pós-guerra gera, novas e importantes contribuições surgem para a historiografia naquela atualidade passando a construir o que posteriormente passa a ser chamada de “história nova”. Segundo o autor este “movimento” não só foi importante só para os estudos históricos, mais também, para a formação profissional dos historiadores, visto que a filosofia deste “movimento” baseava-se em uma historiografia com novas abordagens metodológicas. Segundo ele ”... passamos insensivelmente da biografia dos grandes heróis da história ... para as biografias dos heróis obscuros do cotidiano” (Dosse, p. 15).
Segundo Dosse, as quebras dramáticas da economia capitalista, a qual se encontrava mergulhadas na deflação, na recessão e no desemprego, que atingia em escala mundial, colocam a ideia de progresso relacionada ao acúmulo de bens matérias em questionamentos. É neste cenário que a revista desloca seu olhar dos aspectos políticos para os aspectos econômicos e ganhando assim crescimento evolutivo como em suas palavras cita “a economia torna-se o aspecto pelo qual a sociedade dos anos 20 e 30 se pensa, e é nesse ambiente que a revista de história econômica e social  de Marc Bloch e Lucien Febvre vai evoluir como peixe dentro d`água” (Dosse, p. 22).
Ainda neste começo de século um outro pólo impulsionador com vitalidade particular surge na França; uma disciplina tradicionalmente próxima dos historiadores – a geografia vidaliana de Pierre Vidal de La Blache que também se consagra na reação contra o positivismo da escola historiográfica tradicional pretendendo eliminar em sua literatura a ênfase ao mero acontecimento, ao fato político. Esta nova visão geográfica vidaliana busca fixar-se no tempo atual e interessa-se por tudo que se mantém no presente, pelas permanecias de tudo que formam nossas paisagens valorizando o “meio”, o “modo de vida”, “o quotidiano”. Tendo o homem como seu objeto principal a geografia vidaliana retratada de forma descritiva, caracterizar-se como a ciência dos lugares, das paisagens, dos efeitos visíveis sobre a superfície terrestre, dos diversos fenômenos naturais e humanos. Para ela o homem humaniza a natureza ao mesmo tempo em que se dá à naturalização. A geografia neste período ganha terreno por participar de numerosos comitês de projetos de investimentos estatais. Esse elo entre eruditos e o poder gera trabalho de campo e beneficia uma geografia que responde à demanda social, enquanto que a história nesses anos encontra-se totalmente desvinculada do presente. Com a criação em 1941 do concurso de ingresso à carreira universitária de geografia a progressão dos geógrafos é consagrada. Em 1914 calculava-se que havia 01 professor de geografia para 05 de história. Em 1938 essa proporção passa para 01 para 03. Percebe-se neste período uma forte crise no ofício de historiador que só consegue ganhar novas perspectivas a partir da observação da própria revolução do espírito científico a partir do surgimento das novas teorias que surgem no meio cientifico como: a cinética dos gases, a mecânica einsteiniana e a teoria dos quanta que alteram profundamente as ideias cientificas. Neste cenário a pesquisa histórica tem como base a teoria das probabilidades. Lucien Febvre e Marc Bloch tentam substituir a história geral tradicional por uma história experimental onde o conhecimento é mediado por estudos de caso.
Segundo o autor a Escola metódica defina seus métodos redigidos por Charles Langlois e Charles Seignobos em 1898. Segundo o guia destes estudantes a história apresenta-se como instrução cívica. Unidos nesta ação estes dois historiadores definem quatro etapas da pesquisa histórica. Em primeiro lugar o historiador deve reunir os documentos e classifica-los. Em seguida deve-se proceder a crítica interna dos mesmos e depois por dedução ou analogia esforçar-se para encadear os fatos preenchendo as suas lacunas organizando-os em uma sequência lógica.
Na escola historicizante um, autor de grande destaque é Ernest Lavisse que tem por objetivo unir a comunidade nacional contra a população alemã. Segundo ele a história é um apelo, um antegozo da mobilização geral. Ela deve fortificar um estado de espírito guerreiro, resgatar os traços construtivos do superego nacional. “Se os alunos não carregarem com sigo a lembrança viva de nossas glórias nacionais, se não souber que seus ancestrais combateram em mil campos de batalha por causa dos nobres, se não souber que custou sangue e esforços fazer a unidade de nossa pátria e em seguida resgatar do caos de nossas instituições envelhecidas, as leis que nos fizeram livres; se não se tornar cidadão compenetrado de seus deveres e o soldado que ama seu fuzil, o professor primário terá perdido seu tempo”.     
Segundo os geógrafos a empresa de Febvre ameaçava os rumos da geografia, no entanto, segundo o autor, esta “partida já estava ganha antes de começar, pois a escola geográfica já se encontrava em declínio”. Neste acirramento competitivo os Annales foram bem-sucedidos, pois buscaram para defesa de sua bandeira um agrupamento entre as diversas ciências humanas existentes. É a partir destes Acirramentos que ela se define como escola. 

Em suma este movimento dividiu-se em três fases distintas: sendo a primeira, iniciada em 1920 e liderada por Lucien Febvre e Marc Bloch. Esta se estendeu até o ano de 1945, sendo caracterizada pelos embates contra a História tradicional, a história política e a história dos eventos de 1946 indo até o ano 1968. Na segunda, os embates questionam seus conceitos de estrutura e conjuntura e acabam por aproximar-se muito, segundo Burke, de uma escola, com novos métodos e propostas para a constituição de uma História serial e de longa duração. A terceira que se iniciaria por volta do ano 1968, não sendo precisamente considerada a última, liderada por Jacques Le Goff e Georges Duby, é marcada pela fragmentação onde alguns de seus membros transferiram-se da história socioeconômica para a sociocultural, enquanto outros estão redescobrindo a história política.


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